Nesses tempos em que os azulejos portugueses estão em alta na moda e na decoração não posso deixar de compartilhar o que aprendi em uma palestra ministrada pelo historiador Paulo César Garcez Marins no Centro de Estudos do Museu Republicano em Itu, na mesma ocasião da minha visita ao Museu da Energia, que já contei aqui no blog.
Os dois sobrados, tanto o que abriga o Museu da Energia como o Museu Republicano, têm uma característica em comum: a fachada revestida de azulejos. Como a fachada do Museu Republicano estava sendo restaurada, a palestra tinha como intuito trazer mais informações sobre a história dos azulejos no Brasil e em São Paulo. Uma história que remonta aos tempos da colonização portuguesa.
Assim como a madeira maciça, que falei em outro post, o azulejo também era um material acessível somente às pessoas mais ricas da colônia. No Brasil, nos séculos XVII e XVIII, semelhante ao costume português, este tipo de revestimento era utilizado nos interiores dos edifícios, ajudando a proteger as paredes da umidade do piso. Um exemplo típico dessa época é o conjunto de azulejos que recontavam a vida dos santos nas paredes de igrejas ou claustros.
Foto: Interiores da Igreja do Coração Imaculado de Maria, Capela da PUC - SP (acervo pessoal). |
No século XIX as novas tendências de decoração de interiores vindas da Inglaterra e da França fizeram com que o uso dos azulejos dentro dos edifícios ficasse "fora de moda". Os brasileiros, contudo, não abandonaram este revestimento e inventaram uma forma de usá-lo nas fachadas. Essa nova aplicação partiu daqui em direção a Portugal e não o contrário, como se pode pensar.
Como revestimento de fachadas os azulejos ajudavam a controlar o calor, proteger a frontaria das chuvas e das sujeiras, além de proporcionar um acabamento de luxo nas residências e estabelecimentos comerciais do século XIX. Tê-lo nas fachadas era um símbolo de poder e prestígio para o dono da propriedade.
Ainda nesta época somente pessoas de posses podiam comprar este tipo de revestimento, embora a produção dos azulejos já fosse industrial. Além da longa viagem por navio de Portugal para o Brasil, as peças tinham que ser transportadas com muito cuidado em terra firme, correndo o risco de quebrarem devido a sua fragilidade. A importação e o transporte envolviam um gasto que não era pouco!
Em algumas cidades do norte e do nordeste do Brasil, como São Luís do Maranhão, a fachada azulejada tornou-se mais comum do que em São Paulo, onde há pouquíssimos vestígios dessa época, sendo esses dois museus de Itu, antigas residências de proprietários de terras, algumas das poucas edificações que foram preservadas. Em Santos, no centro antigo da cidade, também encontramos um desses sobrados azulejados, construído em 1865 por um rico comerciante de café.
Os azulejos eram colocados na fachada do edifício um ao lado do outro formando desenhos que para ficarem completos podiam precisar de quatro ou mais peças. Os desenhos ou "padrões" preferidos da época eram a forma geométrica e vegetal com ou sem relevo e as cores mais utilizadas eram azul cobalto e branco. Aliás, o cobalto era o metal utilizado na produção do pigmento azul.
Foto: Eu, Carina Pedro, em frente ao Museu da Energia, Itu-SP (acervo pessoal). |
Foto: Vestígios de azulejos de cercadura que serviam para fazer uma moldura em torno do padrão principal, Museu Republicano, Itu-SP (acervo pessoal). |
Já no século XX os edifícios azulejados passaram a ser tombados como patrimônio histórico nacional no intuito de garantir a restauração e preservação dos bens que restaram. Os azulejos portugueses também serviram de fonte de inspiração para artistas modernos fazerem suas releituras críticas do passado, como é o caso do trabalho da artista plástica Adriana Varejão.
Atualmente, com a infinidade de materiais disponíveis no mercado, os azulejos portugueses são mais uma opção decorativa no design de interiores, especialmente, dos admiradores dos estilos antigos. Podemos encontrar reproduções bem colocadas dessas peças em partes de ambientes residenciais e comerciais como paredes de cozinhas e varandas.
1. Foto: reprodução / Decortiles. Azulejos com desenhos florais.
2. Foto: reprodução / Revista Casa e Jardim. Parede do restaurante Museu do Pão, SP.
3. Foto: reprodução / Revista Casa e Jardim. Painel de azulejos portugueses em uma varanda residencial.
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Recentemente alguns estilistas famosos também recriaram peças do vestuário com estampas que remetem à azulejaria portuguesa. Seguindo a tendência, as lojas fast fashion também ofereceram opções em suas araras, popularizando a estampa entre seus clientes.
Foto: reprodução / Chic Glória Kalil. Estampas de azulejos portugueses na moda.
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Hoje sabemos que os azulejos portugueses estão em alta, influenciando da moda ao design de interiores, mas eu, particularmente, sempre vou achar bonito os tons de azul e os desenhos inspirados neste revestimento cerâmico tão antigo. E se também for do gosto cliente, é mais uma opção a ser considerada por profissionais em seus projetos de interiores, especialmente, por seu potencial decorativo e resgate da História do Brasil.