No post de hoje vou falar de uma publicação muito especial: o livro "Casas Importadores de Santos e seus Agentes", resultado de uma pesquisa de três anos que realizei no programa de pós-graduação da USP. Enquanto me dedicava a esse longo trabalho, não imaginava os frutos que iria colher, muito menos a alegria de vê-lo publicado cinco anos depois. Foi com esse trabalho que aprendi a pesquisar a fundo, a ser mais crítica, a escrever melhor e também buscar caminhos diferentes para compreender melhor a relação dos homens com os seus objetos.
Livro "Casas Importadoras de Santos e seus Agentes". Serviu como cenário para esta foto o Museu Pelé, que no passado foi um dos endereços das casas importadoras, e o bonde, que hoje também é uma atração turística da cidade. |
Este livro trata do comércio de artigos importados no final do século XIX. Mais especificamente sobre um período da história de Santos e de São Paulo marcado por transformações intensas. O que pouca gente sabe é que o Porto de Santos, mais conhecido pela exportação de café, também estava se tornando a principal porta de entrada de uma ampla gama de produtos estrangeiros, que abrangia o universo da alimentação, da moda, da decoração, entre outros.
Meu ponto de partida foi investigar um grupo de comerciantes que estava diretamente ligado à circulação e introdução desses produtos em São Paulo: os importadores. A atuação deles foi tão intensa que provocou mudanças impactantes para época, desde melhorias físicas na área portuária até a criação de novos hábitos de consumo. Sobre os produtos, quem ler o livro, vai descobrir o que cada casa importadora trazia, mas já adianto, tem de tudo um pouco, de alimentos em conserva, chapéus, camas de ferro, roupas brancas, velas, até esterco e garrafas vazias.
Parte do que era importado ficava aqui mesmo na cidade de Santos. Algumas lojas santistas dessa época também estão no livro com suas formas de anunciar e apresentar os produtos aos clientes. Havia algumas com nome em francês, o que dava status na época, outras curiosas, como "Ao ladrilho de Ouro". Aliás, essa loja era uma autêntica representante do ramo de artigos para casa do século XIX, já que vendia ladrilhos e azulejos, mas também lavatórios, caixas automáticas, pias de ferro esmaltado para cozinha, torneiras, chuveiros, papéis pintados e muito mais!
Aproximando a minha pesquisa dos assuntos que estudei depois de finalizá-la é interessante notar que não havia menção às palavras design e personal organizer nos oitocentos, pelo fato de serem atividades que só no período mais recente foram consideradas como profissão. Porém, isso não quer dizer que não houvesse uma preocupação com a decoração e organização dos ambientes domésticos e comerciais. Ocorria um esforço crescente para encontrar maneiras de expor os produtos e colocá-los bem à vista nos interiores das lojas ou na decoração da casa. Daí nasceu a estratégia de criar uma bela vitrine para atrair os clientes e de mostrar bom gosto nos espaços internos por meio de objetos importados que uniam utilidade e beleza.
Para quem se interessou pelo assunto o livro "Casas Importadoras de Santos e seus Agentes" já está à venda no site oficial da Ateliê Editorial. É só clicar no link em laranja. Aproveito para agradecer a todos que me ajudaram a concretizar esse projeto e ao apoio da FAPESP e do Museu do Café. Em setembro, também tive a oportunidade de ministrar uma aula-palestra no curso de História de São Paulo, no CIEE, em que pude compartilhar um pouquinho desse livro para uma plateia incrível.
Foto: equipe CIEE. Eu, Carina Pedro, ministrando a aula-palestra "De chita a locomotiva: tudo era importado" no curso de História de São Paulo, CIEE - São Paulo. |