Acredito que designers de interiores, decoradores, personal organizers, consultores de estilo e outros profissionais que trabalham com serviços personalizados têm um grande desafio nas mãos: estimular o consumo consciente entre os seus clientes. Sabemos que é difícil realizar um trabalho em qualquer uma dessas áreas sem efetuar compras no percurso, mas fazer o dinheiro ser gasto de forma bem pensada é importante para todos nós.
Retomei ideias que coloquei em prática nos últimos tempos no meu dia-a-dia e no de clientes e trouxe algumas delas para refletirmos neste post sobre consumo consciente. Lembrando que a princípio o esforço de sair da zona de conforto e pensar sobre o tema pode ser grande, já que tanto como profissionais que indicam produtos como consumidores que também somos, existe uma tentação forte de seguir caminhos mais fáceis de consumo, mas nem por isso os mais acertados.
Antes de tudo, de começar a inserir objetos novos em casa por conta de um projeto, fazer um levantamento atento do que já possui (e também entre familiares e amigos dispostos a doar ou vender) é um primeiro passo importante. Isso pode ser rápido ou levar um certo tempo se houver muitas peças, móveis e outros elementos acumulados no ambiente. No entanto, fazer essa varredura é essencial para não se comprar objetos duplicados, desperdiçar os que tem potencial para o reuso ou simplesmente ignorar heranças de família que podem encher o espaço de boas recordações e novas utilidades.
Constatado que há mesmo a necessidade de se fazer uma aquisição no comércio do ramo, sair em busca de um produto novinho em folha nem sempre é o caminho mais bacana. O "dia de compras" ou o exercício de garimpar pode ser praticado em lugares menos óbvios da cidade, como bazares de instituições de caridade, leilões, antiquários, brechós, ferro-velhos e até caçambas espalhadas pelos bairros. Daí para as mãos de um bom restaurador pode ser uma aposta certeira na alegria de ver uma bela peça com história sendo reaproveitada no seu espaço.
Se o estilo em questão não comportar coisas antigas ou usadas, um caminho possível é procurar produtos e serviços de artesãos, marceneiros, artistas, coletivos de criação, entre outros profissionais, que façam uso responsável dos materiais naturais, respeitem as pessoas envolvidas na produção e conseqüentemente ofereçam ao consumidor final um produto honesto e de boa qualidade. A preocupação com essas questões também vale quando o fabricante é uma indústria nacional ou estrangeira. Feiras temporárias são uma ótima oportunidade para conhecer e contactar esses profissionais e empresas, sem falar na internet que é outro meio poderoso para achados de todo tipo.
Falando na questão do "bolso", sei que nem sempre seguir os passos que coloquei acima vai garantir as maiores economias. Quando se opta por reaproveitamentos e artigos cuja produção é mais cara, a meu ver, umas das vantagens que se coloca é a de que estamos gastando mais agora para consumir menos depois, já que produtos de boa qualidade têm vida longa e nem se deve querer trocá-los, dependendo do vínculo que se estabelece com eles. Esse comportamento não agrada a quem produz em grandes quantidades, mas interessa ao profissional que deseja estimular um consumo saudável, sem arrependimentos.
Foto: Abajur, porcelana e mesa, obra da exposição temporária "Cama, mesa e escada" de Marco Paulo Rolla (Memorial Minas Gerais Vale, Belo Horizonte, MG). Acervo pessoal. |